50 horas sem luz: moradores com parentes doentes e idosos em casa narram o drama da falta de energia em SP: 'só temos uns aos outros para contar'

Sem luz, idosa de 90 anos tem queda na Rua Steve Biko, após 3° dia sem luz em SP Passadas quase 50 horas do vendaval que derrubou diversas árvores em São Pa...

50 horas sem luz: moradores com parentes doentes e idosos em casa narram o drama da falta de energia em SP: 'só temos uns aos outros para contar'
50 horas sem luz: moradores com parentes doentes e idosos em casa narram o drama da falta de energia em SP: 'só temos uns aos outros para contar' (Foto: Reprodução)

Sem luz, idosa de 90 anos tem queda na Rua Steve Biko, após 3° dia sem luz em SP Passadas quase 50 horas do vendaval que derrubou diversas árvores em São Paulo, mais de 800 mil pessoas ainda estão sem energia na Região Metropolitana e as histórias e dramas de ficar mais de dois dias sem energia se acumulam. Na capital paulista, o comerciante Renato Rino, morador da Rua Paul Rivet, na Vila Invernada, Zona Leste, viu parte dos vizinhos ter a energia reestabelecida no bairro, mas na casa dele, não. Rino mora com os pais idosos. A energia na casa dele foi cortada às 4h da manhã da quarta-feira (10) e até o momento não retornou. E ele não sabe o motivo de parte do bairro ter tido a energia retomada e na rua dele, não. Uma parte da vizinhança a gente vê que a energia voltou, na outra não. E não faz sentido parte do bairro que tava todo sem energia ter voltado e outra parte não. E a gente não tem nenhuma perspectiva de volta. O comerciante Renato Rino, morador da rua Paul Rivet, na Vila Invernada: mais de 50 horas sem energia. Montagem/g1/Acervo pessoal Rino contou que, nesse período, a família enfrentou também a falta de água, perdeu alimentos e teve equipamentos de casa que queimaram. "A gente só vai ter certeza quando a energia voltar”, disse. “A gente tem que se humilhar para pedir favor para amigos, vizinhos e parentes para tomar um banho quente, carregar o celular e fazer tarefas básicas do dia a dia. E a gente vê a concessionária na televisão se esquivando da responsabilidade e de dar uma perspectiva de quando o serviço será totalmente retomado”, desabafou o rapaz. No Grajaú, na Zona Sul, o casal Francisco Bandeira e Josenir Cerqueira ficou desde quarta às 14 horas sem energia na Rua Lorenzo Baú. Para tentar conservar os alimentos, eles compraram gelo e estavam guardando alguns mantimentos em uma caixa de conservação. Moradores do Grajaú, na Zona Sul, perdem tudo com o 3° dia sem energia em SP Nesse período, foram mais de 20 ligações para Enel para pedir ajuda no restabelecimento de energia, mas sem sucesso. A energia só foi retomada agora pela manhã, por volta das 5h. “Mesmo usando gelo, muita coisa vai ter que ir pro lixo e não dá pra ser aproveitado. Foram dias sem luz. Celular pra carregar, banho pra tomar. Fui na casa da minha comadre, duas ruas abaixo da minha. Lá tinha energia. Eu ainda tinha uma conhecida. Mas e as outras pessoas?”, questionou a dona de casa Josenir Cerqueira. Idosa ferida no escuro Moradora da Rua Steve Biko, na Zona Norte, narra o 3° dia sem luz em SP A analista Camila Guimarães, moradora da Rua Steve Biko, no Jardim Elisa Maria, na Zona Norte, enviou ao g1 um mostrando a rua dela sem energia pelo 3° dia seguido. No vídeo, ela mostra os alimentos na geladeira estragando e a rua toda às escuras, mesmo sem nenhum dano aparente na rede da via (veja vídeo no topo da reportagem). Os pais dela cuidam da avó idosa, de 90 anos, que teve uma queda por conta da falta de energia na casa nesse terceiro dia sem energia elétrica. “Minha avó idosa caiu no escuro e machucou toda a mão. Ela ainda está se recuperando de um ACV e tem sido dias muito difíceis em energia. A gente está há 3 dias sem luz, liga para a Enel e eles nem transferem para um atendente porque dizem já temos protocolo. As contas estão todas em dia, não devemos nada pra Enel. Mas o descaso é sem tamanho”, disse a jovem. Idosa de 90 anos cai em casa sem luz pelo 3° dia na Rua Steve Biko, na Zona Norte de São Paulo. Reprodução Camila conta que voltaria de férias para o trabalho nesta sexta (12), mas teve que ser dispensada do trabalho pelo chefe por conta da situação em casa com a falta de luz. “É revoltante o que nós estamos vivendo. A empresa simplesmente não atende o telefone, não dá uma previsão. Na nossa rua tem muitas famílias com gente acabada que está nessa mesma situação”, disse ela. O que diz a Enel O casal Francisco Bandeira e Josenir Cerqueira ficou desde quarta (10), às 14 horas sem energia na Rua Lorenzo Baú, no Grajaú.. Montagem/g1/Reprodução/TV Globo Por meio de nota, a Enel disse que "suas equipes seguem comprometidas com a operação de atendimento a emergências". "Em algumas localidades, o restabelecimento é mais complexo, porque envolve a reconstrução da rede, com substituição de postes, transformadores e, por vezes, recondução de quilômetros de cabos", disse (veja mais abaixo). A empresa, entretanto, não deu perspectiva para a resolução dos problemas nos endereços narrados nesta reportagem. Zona Oeste Moradores da Pompéia, na Zona Oeste, contam o drama de enfrentar o 3° dia sem luz em SP Na região da Pompéia, na Zona Oeste, a professora Monica da Costa Souza narrou a dificuldade de conversar com algum representante da Enel nesses três dias sem energia no bairro. “Está sendo bastante difícil, principalmente pra gente eque trabalha fora, que tem criança pequena tomando banho gelado, de canequinha. E eu perdi toda a minha geladeira. No freezer perdi todas as carnes. Tudo. Agora, to indo na padaria tomar café porque não tem leite, queijo nada em casa. Eu perdi tudo”, afirmou. “No começo a gente ligava e eles derrubavam a nossa ligação. A gente não conseguia nem completar e agora pelo site a gente vê que está sem previsão”, disse. Sem ajuda das autoridades Na Rua Julia Ferreira da Silva, no Jardim Santa Margarida, na Zona Sul, uma árvore caiu sobre a fiação e está desde quarta pendurada nos fios, deixando os moradores sem energia e com perigo de acidente. A dona de casa Patrícia Ferreira conta que está abrindo a casa para os vizinhos da Rua Julia Ferreira irem tomar banho e carregar os celulares. “Eu tenho um filho com uma doença rara que precisa dos aparelhos para sobreviver. Ele está em cuidados paliativos. Graças a Deus, de tanto ligar, a Enel conseguiu ir lá na minha casa ontem e resolveu. Mas os meus vizinhos da outra esquina onde a árvore está pendurada estão no terceiro dia sem luz. E aqui a gente tem que ajudar um ao outro. Só temos uns aos outros para poder contar...”, desabafou. Àrvore está pendurada na rua Júlia Ferreira da Silva, no Jd Santa Margarina, desde quarta “Tem gente com filho autista, gente com idoso em casa doente. Sem contar o risco da árvore pendurada cair em cima de alguém ou algum carro, ou ainda destruir a casa da frente. Já ligamos pra Enel, Subprefeitura e nada. Ninguém veio aqui tomar nenhuma providência”, disse a dona de casa. Ela contou que mais de vinte ligações foram feitas para a subprefeitura da região e para a Enel, mas sem nenhum retorno. “Fiz o vídeo e coloquei nas redes sociais pra ver se chama a atenção de alguém pra nos ajudar, porque a gente liga e liga, e ninguém vem ao nosso auxílio”, afirmou a dona de casa. O g1 procurou a Prefeitura de SP para comentar a assunto, mas ainda não recebeu retorno. 835 mil imóveis às escuras Quase 50 horas depois do vendaval que atingiu cidades da Grande São Paulo, a Região Metropolitana ainda tem 835 mil imóveis às escuras, segundo o boletim publicado pela concessionária Enel às 6h desta sexta. A falta de energia afeta serviços essenciais, como semáforos, abastecimento de água e mobilidade urbana. Grande SP ainda tem mais de 800 mil imóveis sem luz em área da Enel Segundo o levantamento da empresa, a capital paulista tem 589 mil endereços sem energia, liderando as cidades da área de concessão da Enel sem luz. Percentualmente, Juquitiba, Itapecerica da Serra e Embu das Artes registram o maior número de casas ou comércios sem energia elétrica. Em Juquitiba, 39% dos imóveis estão sem luz. Já em Itapecerica da Serra, são 33% dos endereços às escuras, somando 22,4 mil imóveis. Embu tem 26,40%. Na manhã de quarta-feira (10), ventos atingiram a capital e a região metropolitana com rajadas de 96 km/h. Cidades da Grande SP ainda sem energia elétrica às 06h desta sexta-feira (12). Reprodução A concessionária informou que não há prazo para normalizar 100% do serviço. Em nota enviada ao g1 nesta sexta, a concessionária informou que "restabeleceu o fornecimento de energia para cerca de 1,8 milhão de clientes, dos 2,2 milhões afetados". A empresa disse que "outros cerca de 500 mil novos casos ingressaram ao longo do dia de ontem com solicitação de atendimento, em decorrência da continuidade dos ventos pela manhã". No momento, a companhia afirmou que "trabalha para restabelecer o serviço para cerca de 830 mil clientes (9,8% da base da distribuidora)". Vendaval histórico atinge SP sem chuva; rajada chega a 98,1 km/h Em seu site, a Enel responsabilizou os ventos fortes pela falta de energia: "Nossa área de concessão foi afetada por um um ciclone extratropical e um vendaval histórico, segundo o Inmet, que perdurou por cerca de 12 horas nessa quarta-feira", informa trecho do comunicado. "As fortes rajadas de até 98km/h derrubaram árvores e lançaram galhos e outros objetos sobre a rede elétrica." Na quinta, pátios lotados de veículos de manutenção da concessionária foram vistos em três pontos da cidade. A Enel justificou que os carros parados pertencem a equipes de diferentes turnos. Rua na região do Sacomã, na Zona Sul de São Paulo, sem energia no dia 12 de dezembro de 2025 Caio Portari/TV Globo 24 cidades afetadas A forte ventania que atinge São Paulo derrubou Papai Noel da decoração de Natal da Avenida Paulista Reanto S. Cerqueira/ Ato Press/Estadão Conteúdo Segundo o site da Enel, os 24 municípios atendidos pela empresa foram afetados pelos ventos fortes de quarta e tiveram registros de falta de abastecimento de energia. Veja abaixo quais são: Barueri Carapicuíba Cajamar Cotia Diadema Embu-Guaçu Embu Itapecerica da Serra Itapevi Jandira Juquitiba Mauá Osasco Pirapora do Bom Jesus Rio Grande da Serra Ribeirão Pires São Bernardo do Campo São Caetano do Sul São Lourenço da Serra Santo André Santana de Parnaíba São Paulo Taboão da Serra Vargem Grande Impactos do apagão Árvore caída na Rua Eça de Queiroz, na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, na manhã do dia 11 de dezembro de 2025 Caio Portari/TV Globo Semáforos apagados e trânsito caótico: Pelo menos 218 semáforos estavam desligados, agravando o trânsito, que registrou mais de 570 km de lentidão entre 7h e 10h na quinta. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), até às 18 horas, registrou 263 semáforos apagados por falta de energia, 02 apagados por falhas e 0e em amarelo piscante. A lentidão na cidade chegou a 811 km. Transporte público e aeroportos: Linhas de ônibus foram prejudicadas pelo congestionamento. Os aeroportos de Congonhas e Guarulhos tiveram mais de 300 voos cancelados desde a quarta. Há, também, atrasos. Quedas de árvores: foram registradas ao menos 336 árvores caídas na capital, sendo 267 atendimentos finalizados. Segundo a prefeitura, equipes aguardam apoio da Enel em 55 ocorrências. Abastecimento de água: A Sabesp alertou, em nota das 18h, para falhas no bombeamento em bairros como Americanópolis, Cangaíba, Parelheiros, Parque do Carmo, Vila Clara, Vila Formosa e Vila Romana, na cidade de São Paulo. Marginal Pinheiros, na altura da Raia Olímpica da USP Arquivo pessoal/César Soares Prazo no app Clientes da Enel que usaram o aplicativo da empresa pelo celular informaram na quinta que receberam previsões variáveis sobre o tempo que levará para restabelecer a energia elétrica em seus imóveis. Uma mulher contou que inicialmente a previsão era às 12h. Minutos depois foi informada pela Enel que seria às 13h. Ela mora num condomínio em Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, e printou a previsão em seu telefone. Também há relatos de moradores da capital que conseguiram acessar o prazo dado pela Enel no aplicativo, mas, quando tentaram printar a tela, o sistema não permitiu. Outros clientes sequer conseguiram acesso ao aplicativo da empresa pelo celular. Enel deu inicialmente prazo até 12h desta quinta para restabelecer energia em condomínio de cliente da Zona Sul de São Paulo. Depois mudou tempo para 13h Reprodução/Arquivo pessoal