90 anos de Mauricio de Sousa: filhos celebram trajetória do pai e compartilham memórias ao g1

90 anos de Mauricio de Sousa: filhos celebram trajetória do pai e compartilham memórias "PaLabéns, MauLicio! ObLigado pelos quadLinhos!" Ao ler a frase, quas...

90 anos de Mauricio de Sousa: filhos celebram trajetória do pai e compartilham memórias ao g1
90 anos de Mauricio de Sousa: filhos celebram trajetória do pai e compartilham memórias ao g1 (Foto: Reprodução)

90 anos de Mauricio de Sousa: filhos celebram trajetória do pai e compartilham memórias "PaLabéns, MauLicio! ObLigado pelos quadLinhos!" Ao ler a frase, quase dá para ouvir a voz do personagem Cebolinha, com seu jeito único de falar, desejando feliz aniversário ao seu criador, Mauricio de Sousa, que completa 90 anos de vida nesta segunda-feira (27). E não é só o amigo da Mônica que tem motivos para comemorar: para marcar a data, dois dos dez filhos do cartunista, Mauro e Marina, compartilharam lembranças, aprendizados e histórias do homem por trás de tantos personagens icônicos da "Turma da Mônica", durante entrevista ao g1. Os dois e o sobrinho Marcos Saraiva, filho da Mônica, comandam a MSP Estúdios, empresa responsável por criar conteúdos e expandir o universo da marca. Desde sua fundação, em 1959, a empresa já lançou mais de 400 personagens e vendeu mais de 1 bilhão de revistas. "Espero que ele seja lembrado como um dos principais artistas do Brasil, um grande alfabetizador e incentivador da leitura, um grande empresário, um pai maravilhoso e um ser humano inspirador", afirmou Mauro Takeda e Sousa. "Eu espero que, daqui a 100 anos, as pessoas continuem com essa imagem do Mauricio visionário, desse Mauricio sonhador, Mauricio artista", enfatizou Marina Takeda e Sousa. Confira abaixo os principais trechos das entrevistas: 'Espero que ele seja eterno' Marina Takeda e Sousa é diretora-executiva da MSP Estúdios Arquivo Pessoal/Instagram Ao g1, Marina ressalta que o aniversário do pai é mais do que uma data comemorativa: é uma tradição que celebra não apenas a trajetória do artista, mas também o impacto cultural que ele construiu ao longo de décadas. “O Mauricio sempre foi festeiro. Ele sempre foi a favor de a gente comemorar. A gente tem essa tradição de estar sempre celebrando as coisas. E eu acho que o aniversário dele é uma tradição importantíssima para a gente aqui da MSP, para a família. É um momento que a gente tem para se reunir, de agradecer e parabenizar aquele cara que botou tudo isso em pé e continua encantando gerações”, disse ela. Marina conta que o pai estava animado na pré-estreia da cinebiografia Mauricio de Sousa: O Filme", acompanhando as homenagens que surgiram à medida que o aniversário se aproximava. “Ele passou o dia inteiro superagitado. Acho que, a partir do aniversário dele, vão sair mais ainda. Então, ele vai ficar ainda mais feliz, e a gente está só curtindo vê-lo animado assim.” Mauricio de Sousa Claudio Belli/ Divulgação/ MSP Para a filha, o que mais emociona Mauricio é o carinho dos fãs. “É o maior sinal de que o que ele fez deu certo, sabe? Eu acho que o ser bem-sucedido do Mauricio é ter esse retorno do público. E principalmente das crianças. Ver as crianças com os olhinhos brilhando, lendo a Turma da Mônica, assistindo aos desenhos, vendo shows e vendo-o ao vivo", disse. "Quando ele encontra os fãs, para tudo o que está fazendo. Ele pode estar almoçando, pode estar no restaurante, mas ele para tudo e se não tira foto, ele dá autógrafo. E isso a gente aprendeu desde pequeno: o respeito que ele tem pelos fãs e o quanto ele deve aos fãs do sucesso que ele tem. Acho que é realmente uma coisa muito rica para ele.” Marina conta que as lembranças com o pai incluem a infância ao lado dele enquanto Mauricio trabalhava em casa. “Ele levava muito o serviço dele para casa e ficava lá no escritório dele. E eu era uma criança muito grudada nele. A gente tinha uma conexão muito forte, porque eu gostava muito de desenhar, e ficava lá na frente da mesa dele, vendo tudo o que ele estava fazendo. Ele lia os roteiros, aprovava, avaliava e conversava comigo sobre o que estava lendo, o que estava achando, o que ele ia falar para os roteiristas", lembra. Marina e o pai, Mauricio de Sousa Arquivo Pessoal/Instagram Ainda criança, Marina conta quando percebeu a dimensão da obra do pai no Brasil. “Quando eu era pequena, estava na escolinha, e meu pai ia me buscar ou eu ia em algum evento, eu via a comoção que existia quando ele chegava. Eu via que as pessoas ficavam alvoroçadas mesmo, queriam tirar foto, pedir autógrafo. E, no começo, eu sentia muito ciúme disso. Eu não entendia muito bem, claro, era uma criança. Mas, aos poucos, fui vendo que aquilo tudo era amor e admiração das pessoas, dos fãs, pelo meu pai. E isso foi se transformando em orgulho." A filha do cartunista também relembra como sua personagem nasceu no universo da Turma da Mônica: um pedido que foi atendido. “A minha personagem foi criada por livre e espontânea pressão, na verdade, de mim mesma. Meu pai tinha acabado de criar o Nimbus e o Do Contra, que foram baseados nos meus irmãos mais novos, no Mauro e no Mauricio. Aí eu olhei aqueles personagens, achei o máximo, mas cheguei à porta do escritório do meu pai, numa voadora mesmo, batendo a porta e falando: ‘Quê isso, pai? Qual é? Não sou sua filha, não? Você não me ama? Não tenho personalidade?’ E aí ele ficou em choque com aquela menina cheia de personalidade, cobrando seus direitos ali de filha." Mauricio de Sousa ao lado da filha Marina Takeda e Sousa Arquivo Pessoal Depois de um tempo, Mauricio a surpreendeu com a personagem Marina, baseada na personalidade dela na época. "Eu era uma menina que amava desenhar, que vivia andando com uma prancheta embaixo do braço, que ficava o dia inteiro lendo e desenhando. Ele fez a Marina, acho que em 1994, se não me engano. E ela é meu xodó, né? Eu sou completamente apaixonada por essa personagem." Marina fala também sobre a decisão de fazer parte da gestão da MSP Estúdios. "Eu tentei até desviar do caminho, mas meu pai sempre manifestou a vontade [de que ela fizesse parte da administração da empresa]. Sempre deixou muito claro, mas nunca me pressionou. Mas é aquela conexão que a gente sempre teve. Ele sabia o quanto eu conhecia da empresa, dos personagens, do que ele queria, da filosofia dele. Isso sempre foi muito legal também de ouvir dele e de me sentir segura com relação a isso." O desafio de manter a essência da Turma da Mônica enquanto a marca se moderniza para novas gerações é grande, aponta a filha. “Esse é justamente o nosso maior desafio: a gente se manter relevante no mercado como uma empresa multiplataforma, equilibrando toda a tradição e a essência do Mauricio de Sousa, da marca Turma da Mônica, com a inovação que a gente já tem e que quer ter ainda mais. Eu acho que isso resume bem o que o nosso público é hoje, principalmente as crianças, extremamente conectadas." E ressalta: "O Mauricio sempre ensinou a gente que a resposta estava em observar e ouvir as crianças. Então, ouvindo as crianças, não tem erro. É entender quais são as necessidades, do que elas gostam, para onde a gente deve ir. Acho que esse é o segredo. É simples, mas faz toda a diferença.” Mauro, Mauricio e Marina Sousa Arquivo Pessoal/Instagram A filha define o legado do pai como imensurável. “Está em transformação o tempo todo, na minha cabeça, na minha opinião. É um legado que ainda está sendo processado por mim." "E eu vejo isso a cada conversa que tenho com fãs, com leitores, com as crianças, principalmente. Eu vejo a importância da Turma da Mônica e do universo do Mauricio na vida deles, e eu vou absorvendo aquilo, assim: a dimensão do legado do Mauricio, que é uma coisa imensurável mesmo. É impressionante e é lindo de ver.” E complementa: “Eu espero que o Mauricio seja eterno. Eu espero que, daqui a 100 anos, as pessoas continuem com essa imagem do Mauricio visionário, desse Mauricio sonhador, Mauricio artista. Esse ser humano tão especial que, através dos sonhos dele, acabou se tornando um patrimônio cultural brasileiro e ajudou tantas pessoas no sentido de educação, de entretenimento, de amor, de carinho”. 'Carinho do público o emociona' Mauricio de Sousa ao lado do filho, Mauro Takeda e Sousa, na pré-estreia do filme em SP Arquivo Pessoal Mauro Takeda e Sousa tem 37 anos e estreou recentemente nos cinemas interpretando o próprio pai na cinebiografia, produção da Disney em parceria com a MSP Estúdios. Ele destacou que o filme é um presente não apenas para o pai, mas para todos os fãs, e ressaltou que a pré-estreia em São Paulo, realizada na última quarta-feira (22), foi um dos momentos mais emocionantes de sua vida. "Foi incrível ter meu pai ali, junto comigo, com a família toda presente e tantos fãs. Ele entrou e foi completamente ovacionado, do jeito que ele merecia, recebendo todo aquele carinho. Isso faz tanta diferença para ele, faz tão bem. Passei realmente por um dos dias mais incríveis da minha vida ao lado dele", afirmou Mauro. "A grande cereja do bolo é esse filme. Teve um filme em homenagem a ele justamente nesse período de 90 anos de vida dele, protagonizado por mim. Não tinha realmente como ser um período mais especial para tudo isso acontecer", contou Mauro. Para ele, o que ainda emociona o pai é o carinho do público. "Ele já fez muita coisa nesta vida, mas o que realmente faz diferença para ele é o carinho das pessoas. Desde que eu sou pequenininho, percebo que todos vêm com muito afeto, contando as histórias que cada um tem com ele, com as obras dele, com o universo que ele criou. Meu pai é um paizão para todo mundo, e esse carinho é o que mais emociona e faz diferença na vida dele", contou. Com isso, o filho acredita que o grande legado de Mauricio se reflete na relação que ele construiu com milhões de brasileiros. "Essa paixão que todos têm pelo meu pai é o que ele construiu. Criou essa conexão de milhões de brasileiros com as obras dele, com ele, com muito carinho, respeito e credibilidade. Como diretores e executivos, estamos dando continuidade a esse trabalho, que é extremamente precioso", disse; Mauro também relembrou o momento em que ganhou um personagem inspirado nele, o Nimbus. Foi a partir daí que teve dimensão de quem era Mauricio de Sousa. "Ele surgiu quando eu tinha 7 anos. Lembro perfeitamente da minha reação ao ver o gibi com o Nimbus e o Do Contra na capa. Fiquei boquiaberto, porque eu fazia parte da Turma da Mônica. Foi uma homenagem do meu pai, e isso me fez entender a dimensão dele como autor. Foi um momento muito marcante, que trago com muito carinho." "Eu até me tornei uma criança meio metida, espalhando para todo mundo que era filho do Maurício de Sousa. Era por orgulho, porque é muito legal ser filho dele", lembrou. Mauricio de Sousa com o filho Mauro Arquivo Pessoal Já a entrada de Mauro na empresa familiar aconteceu após a formação em artes cênicas e uma carreira inicial como ator e músico. "Vi que a MSP tinha uma área voltada para teatro, mas era muito pequena. Surgiu a oportunidade de eu entrar e abrir a área de Live Experience, cuidando de espetáculos, eventos e parques. Fui diretor dessa área por muitos anos, e agora sou um dos diretores executivos da MSP", disse. Apesar de a gestão estar nas mãos da nova geração, Mauricio continua participando ativamente, diz o filho. "Ele vai todos os dias para a empresa, curioso, sempre alinhando tudo conosco. Confia bastante na nova gestão, e todo esse processo aconteceu na presença dele, com ele decidindo junto. Continua apaixonado pelo trabalho", afirmou Mauro. Aos 90 anos, Mauricio de Sousa, o pai da Turma da Mônica, vira filme O filho também contou que o impacto das obras do pai é sentido diariamente. "Recebemos muitos relatos de pessoas tocadas pelos personagens. Um que marcou foi a história de um menino dentro do espectro do autismo, com hiperfoco no Chico Bento. A mãe dele veio agradecer ao meu pai, dizendo que isso fez a vida do filho mais feliz e divertida. Isso emocionou muito meu pai e inspirou a criação do personagem André", relatou. Sobre a relação familiar, Mauro descreveu que uma das lembranças marcantes é das broncas que ele e seu irmão Mauricio levavam do pai. "Nos amávamos e brigávamos muito, como qualquer irmão. Meu pai nos amava muito, mas também nos dava muitas broncas. Nós éramos pestes, e ele estava sempre ali para nos colocar no eixo. Aprendi que a bronca dele era amor e preocupação." Mauricio de Sousa ao lado do filho, Mauro Takeda e Sousa Arquivo Pessoal Já em relação à celebração dos 90 anos do pai, Mauro disse que todos estão felizes por comemorarem mais um ano de vida de Mauricio, ainda mais com o lançamento do filme. "Vamos comemorar juntos, com a família unida ao redor dele, dando muito amor, muito carinho, muitos abraços. Acho que a gente tem que aproveitar cada segundo com ele, porque tudo é muito precioso, e que bom que ele está aqui junto com a gente para prestigiar esse momento. É um momento só de celebração, de muita alegria." Legado Mauricio de Sousa, mais famoso e premiado autor de quadrinhos do país. Claudio Belli/ Divulgação MSP Segundo informações da Academia Paulista de Letras, Mauricio Araújo de Sousa nasceu em 27 de outubro de 1935, em Santa Isabel (SP). Filho de Petronilha Araújo de Souza e Antonio Mauricio de Souza, é pai de dez filhos, entre eles Mônica, Magali, Marina e Mauro, que inspiraram personagens da Turma da Mônica. Parte de sua infância, Mauricio viveu em Mogi das Cruzes, desenhando e rabiscando nos cadernos escolares. Aos 19 anos mudou-se para São Paulo e iniciou a carreira como repórter policial no jornal "Folha da Manhã", que se tornaria a "Folha de S.Paulo", e onde trabalhou por cinco anos. Em 1959, criou seu primeiro personagem, o cão Bidu, marcando o início de sua trajetória como cartunista. Nos anos seguintes, lançou diversas tiras e personagens até que, em 1970, publicou a primeira revista da Mônica, que se tornou um fenômeno editorial. Ele passou por editoras como Abril e Globo e, atualmente, está na Panini, com foco na internacionalização da marca. A Academia Paulista de Letras destaca que Mauricio já publicou cerca de 1 bilhão de revistas e que suas criações chegam a aproximadamente 30 países, representando 86% das vendas do mercado brasileiro de quadrinhos. Mauricio de Sous Divulgação/Clozel Comunicação Seu trabalho expandiu-se para livros, produtos licenciados (cerca de 3.500 itens, exportados para 90 países), animações, filmes, espetáculos, parques temáticos e campanhas educativas. Consta ainda que o autor fundou, em 1997, o Instituto Cultural Mauricio de Sousa, responsável por campanhas sociais e educativas com alcance nas Américas, em parceria com entidades como Opas, OMS, Unesco e Unicef — que, em 2007, nomeou Mônica como Embaixadora do Unicef. Entre os diversos reconhecimentos listados pela Academia, estão o Troféu Yellow Kid, a Medalha dos Direitos Humanos, o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, homenagens internacionais e o título de Doutor Honoris Causa. Em 2010, Mauricio foi eleito para a cadeira nº 24 da Academia Paulista de Letras. Mauricio de Sousa completa 90 anos nesta segunda-feira (27) Reprodução/Instagram Mauricio de Sousa Arquivo Pessoal/Instagram