Brasileiro morre em guerra na Ucrânia; salário de R$ 25 mil e 'sonho de servir' atraíram o jovem, diz esposa

Campineiro Daniel Campos morre em guerra na Ucrânia O campineiro Daniel Lucas de Campos, de 32 anos, morreu em combate na guerra da Ucrânia, nesta segunda-fei...

Brasileiro morre em guerra na Ucrânia; salário de R$ 25 mil e 'sonho de servir' atraíram o jovem, diz esposa
Brasileiro morre em guerra na Ucrânia; salário de R$ 25 mil e 'sonho de servir' atraíram o jovem, diz esposa (Foto: Reprodução)

Campineiro Daniel Campos morre em guerra na Ucrânia O campineiro Daniel Lucas de Campos, de 32 anos, morreu em combate na guerra da Ucrânia, nesta segunda-feira (24). A informação foi confirmada ao g1 por sua esposa, Letícia Prado. A família aguarda o translado do corpo, que segue em Kiev, capital da Ucânia — saiba mais abaixo. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que não divulga informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e não fornece detalhes sobre a assistência prestada. Nesta quarta-feira (26), o g1 informou que o mineiro Lucas Lima, de 30 anos, também morreu em combate na guerra. 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp Daniel havia deixado o Brasil no dia 12 de agosto deste ano. Segundo Letícia, ele se voluntariou "pela emoção de fazer o bem", e também por razões financeiras, já que foi lhe prometido um salário de R$ 25 mil por mês. O jovem vivia com a família em Campinas (SP), no interior de São Paulo, e trabalhava como vendedor de carros antes de embarcar para a Ucrânia. Ele deixa dois filhos e a companheira com quem viveu por oito anos e com quem conversava todos os dias por videochamada. "Eu não contei para meu filho ainda, estou buscando ajuda psicológica pra ele. É uma dor que não sei explicar ainda. Estou anestesiada. Eu perdi o amor da minha vida dias antes de completar 30 anos. Não consigo superar. Conversamos domingo, e ele deixou um recado pra mim com um amigo de lá, se algo acontecesse", descreve Letícia. 'Fiquei a ver navios' Daniel Campos, campineiro que morreu em combate na guerra da Ucrânia. Arquivo pessoal A esposa afirma que a família não chegou a receber o valor mensal completo e que, nos últimos dois meses, não recebeu dinheiro algum. Letícia relata que a vontade de ajudar e o sonho de servir foram a maior motivação para a empreitada do esposo. Contudo, o desejo de melhorar a situação financeira da família "também entrou em jogo". Daniel teria assinado um contrato com o governo ucraniano para receber R$ 25 mil (valor já convertido da moeda local, a hryvnia) — por mês e, caso morresse em combate, a família receberia uma indenização em até um ano. O g1 pediu esclarecimentos para a Embaixada da Ucrânia no Brasil e ainda não obteve resposta. A companheira explica que eles nunca receberam o salário integral nos quatro meses que ele esteve na guerra: nos dois primeiros meses Daniel recebeu R$ 7 mil, e nos dois últimos, não recebeu dinheiro algum. "Eu fiquei a ver navios, porque não trabalho", conta.aaa 'Turismo de guerra': como exército ucraniano está recrutando brasileiros para combates contra Rússia 'Ele sempre sonhou alto' Letícia percebeu que tinha perdido o esposo antes de receber qualquer confirmação. "Tínhamos um grupo de familiares e eu vi uma movimentação de um soldado revoltado [dizendo] que estavam perdendo muita gente e que aquilo não era vida. Quando ele falou que perderam um soldado de outra equipe, eu já sabia que era ele", disse. A esposa relata que Daniel fez a inscrição para se voluntariar para a guerra em julho. Antes de embarcar, o esposo ficou três dias em treinamento no estado do Rio de Janeiro (RJ), e só depois embarcou para Ucrânia. "O sonho dele sempre foi servir. Era uma paixão. Quando apareceu a oportunidade dele ir, ele sentou pra conversar comigo, porque temos dois filhos. De início, não queria que ele fosse, mas depois entendi que seria uma oportunidade única de ele se realizar. Então, acabei apoiando. Ele sempre sonhou alto", descreve Letícia. Translado do corpo Desde que receberam a notícia da partida de Daniel, a família se esforça para conseguir trazê-lo de volta para casa. Segundo a família, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) custeia apenas o translado do corpo de Kiev, capital da Ucrânia, para o Brasília (DF). Para conseguir trazer o corpo para Campinas, os familiares montaram uma "vaquinha" online e conseguiram arrecadar R$ 11 mil. Apesar dos esforços vindos do Brasil, Letícia conta que o corpo do Daniel ainda não saiu de Kiev. "Eles [o governo ucraniano] ficam segurando o corpo para perícia. Não passaram data concreta e as informações estão vagas", relata. "Daniel merecia demais. E também merece um enterro digno, do jeito que farei de tudo para trazer ele pra casa", finaliza. O g1 questionou o Ministério das Relações Exteriores sobre o caso, e o órgão informou que não divulga informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e não fornece detalhes sobre a assistência prestada. Guerra na Ucrânia A guerra começou em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia e fez ataques pela terra, pelo ar e pelo mar. No último sábado (22), a Ucrânia anunciou um período de consulta com aliados para pôr fim ao confronto. O anúncio chegou um dia depois de os Estados Unidos, que elaboraram um plano de paz para o conflito, pressionarem o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a aceitar a proposta. O documento vem sendo elaborado pelos governos dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, e prevê que Kiev ceda as regiões de Donetsk e Luhansk, conforme um esboço do documento ao qual a agência de notícias AFP teve acesso. Essas duas regiões, que ficam no leste da Ucrânia, seriam "reconhecidas de fato como russas, inclusive pelos Estados Unidos", segundo a proposta, que ainda será apresentada ao governo ucraniano. A mesma categoria seria aplicada à Crimeia, a península ucraniana ilegalmente anexada pela Rússia em 2014. Rússia e Ucrânia intensificam bombardeios VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas