'Curva da morte': motoristas de caminhão ignoram proibição e trafegam por via perigosa na Serra da Cantareira, em SP
Motoristas de caminhão desrespeitam proibição e trafegam por via na Serra da Cantareira Moradores da Serra da Cantareira, na Zona Norte de São Paulo, denunc...
Motoristas de caminhão desrespeitam proibição e trafegam por via na Serra da Cantareira Moradores da Serra da Cantareira, na Zona Norte de São Paulo, denunciam que caminhões continuam circulando livremente pela antiga Estrada da Roseira — atualmente Avenida Vereador Belarmino Pereira de Carvalho — apesar da proibição expressa para veículos pesados. A via, que liga a capital a Mairiporã, na Grande São Paulo, é íngreme, estreita e marcada por acidentes graves. Mesmo com placas de restrição e um posto da Polícia Militar na entrada do trecho, caminhoneiros passam sem serem parados (veja vídeo acima). Segundo quem vive na região, que abrange os municípios de São Paulo, Guarulhos, Mairiporã e Caieiras, o controle é praticamente inexistente. A dona de casa Andresa Mendes, que mora na Serra da Cantareira há cinco anos, afirma que o problema vem piorando desde a pandemia. “Depois da pandemia, o número de caminhões aumentou muito. Tivemos vários acidentes e me sinto em uma roleta-russa, porque nunca sabemos quando um caminhão vai perder o freio ou quando um que tenta subir e não consegue vai descer arrastando tudo o que tem atrás dele”, diz. Caminhão faz manobra arriscada em estrada da Serra Cantareira. Arquivo pessoal Ela relata que acidentes no fim da tarde, horário de maior movimento de moradores voltando para casa, transformam a rotina em um caos. Com os acidentes, o trecho é interditado e quem utiliza o local precisa pegar rotas alternativas. Outra moradora da região da Reserva das Hortênsias, que prefere não se identificar, afirma que usa a estrada diariamente e testemunha a irregularidade de perto. “Aqui parece terra de ninguém. Anos atrás, uma família inteira morreu na tal curva da morte”, relata. A "curva da morte" está próxima do limite entre as cidades de São Paulo e Mairiporã, em um trecho bastante íngreme e sinuoso, que moradores apontam como o mais perigoso da via. "É um trecho em que usamos muito o freio. Quando chega lá embaixo já está no limite, alguns carros descem saindo fumaça ou quase sem freio. Imagine um caminhão”, afirma. Impasse entre municípios A circulação de caminhões no trecho da Serra da Cantareira é formalmente proibida por lei municipal de Mairiporã e por regras previstas no Código de Trânsito Brasileiro, devido à forte inclinação e ao risco de acidentes. A restrição vale para a Avenida Senador José Ermírio de Moraes e vias adjacentes, onde placas instaladas pela CET indicam que veículos pesados não podem subir ou descer a serra. Em 2025, a Prefeitura de Mairiporã estipulou multa para quem desrespeita a norma que chega a R$ 5.104, podendo dobrar em caso de reincidência. Segundo as moradoras, a falta de solução definitiva envolve um impasse entre os dois municípios responsáveis pelo trecho. Além disso, afirmam que o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de São Paulo e o governo do estado já foram acionados diversas vezes, mas não houve solução. Sinalização na Estrada da Roseira, de Mairiporã para a Serra, saída da Luiz Salomão Chamma. Arquivo pessoal “As autoridades já foram cobradas por diversos moradores, mas é um jogo de empurra. Metade da estrada pertence a São Paulo, que não tem feito nada, e a outra metade a Mairiporã, que até tenta mudar alguma coisa, mas até agora há pouco surtiu efeito", conta Andresa. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, em nota, que “a via citada é municipal” e que há um convênio de fiscalização de trânsito com Mairiporã vigente até 2029. Segundo o órgão, policiais da Base da Serra da Cantareira “orientam e determinam o retorno de caminhões que deixam o município em direção à capital quando há restrição de circulação”. O Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran) destacou que “já houve reuniões com batalhões e com a CET para aprimorar a fiscalização dos veículos que fazem o trajeto inverso”, ou seja, no sentido capital–Mairiporã. Entre as sugestões apresentadas está a implantação de fiscalização eletrônica, medida que, segundo a nota, “ainda não [foi] adotada pelo órgão gestor da via”. A SSP reiterou ainda que “a fiscalização de trânsito segue a competência da via”, explicando que “o município regula e fiscaliza infrações nas vias municipais, e o Estado atua nas questões de habilitação, veículos, crimes de trânsito e policiamento ostensivo”. Procurada pelo g1, a gestão do prefeito de Mairiporã, Walid Ali Hamid (PSD), conhecido como Aladim, não se manifestou até a última atualização desta reportagem. Histórico de acidentes A restrição a caminhões no trecho existe há anos justamente devido ao número de ocorrências graves. Em janeiro, um caminhão entalou em uma estrada na região e bloqueou o acesso na Serra da Cantareira aos municípios vizinhos de Mairiporã, Caieiras e Franco da Rocha. Andresa relata que presenciou uma manobra perigosa de um caminhão na quinta-feira (20), feriado da Consciência Negra, quando passou pelo local. “Um caminhão tentou subir, perdeu força e começou a voltar de ré. Depois, fez uma manobra em plena estrada. Já vimos mais de cinco caminhões, fora motos e carros, perderem o freio no mesmo local. O trecho é chamado de 'curva da morte' por causa de um acidente de 1994 que tirou a vida de uma jornalista e seus filhos.” Recorte do antigo Jornal da Serra, de 1994. Arquivo pessoal Em 1994, a jornalista Marisa Fernanda de Macedo Ribas e seus três filhos morreram em um acidente no local, quando um caminhão atravessou a pista. O motorista do caminhão também morreu. Segundo dados do Infosiga, plataforma de dados gerenciada pelo Detran-SP, o estado de São Paulo teve, em outubro, uma redução de 29,2% nos acidentes com vítimas não fatais. Foram 8.175 ocorrências, ante 11.554 registradas no mesmo mês de 2024. Já os acidentes com morte também diminuíram: recuaram 10,6%, passando de 526 para 470 óbitos no comparativo anual. Nas contas das moradoras ouvidas pelo g1, foram registrados ao menos seis acidentes graves no trecho em 2025. O governo do estado de São Paulo não informou dados das ocorrências na região da Serra da Cantareira até a última atualização desta reportagem.