Designer de moda que ficou cego aos 40 anos reconstrói história com agulha e linha em oficina adaptada em Campinas
Designer de moda que ficou cego aos 40 anos reconstrói história com agulha e linha Edinaldo de Oliveira trabalhou por 15 anos cercado por cores e formas, mas ...
Designer de moda que ficou cego aos 40 anos reconstrói história com agulha e linha Edinaldo de Oliveira trabalhou por 15 anos cercado por cores e formas, mas um descolamento de retina em 2023, quando tinha 40 anos, fez o mundo como conhecia desaparecer. Vitrinista e designer de moda, ele aprendeu a reconstruir sua história em uma oficina adaptada para pessoas cegas. Apesar de ter desenhado vitrines e coleções de roupas para lojas por tantos anos, Edinaldo nunca havia costurado antes. Descobriu essa habilidade com agulha e linha no trabalho gratuito oferecido pelo Instituto dos Cegos Trabalhadores de Campinas (SP). '"Foi bem difícil perder a visão porque meu trabalho era muito visual. Perdi a noção de cor, de tamanho, de espaço", relata. Além de servir como uma terapia, como ele define, o desafio de aprender algo novo é impulsionado pelo compartilhamento de histórias entre os participantes. "Aí você chega aqui na oficina, vai dividindo sua história com outras pessoas e construindo uma nova" diz. Com a nova habilidade, Edinaldo já desenvolveu itens como ecobags, roupas de festa junina, pijamas, aventais e camisas. #paratodosverem: Edinaldo de Oliveira, de pele clara, está sentado em frente a uma máquina de costura elétrica, com as mãos próximas ao carretel, segurando linha. Ele tem cabelo curto e escuro, usa camiseta cinza e brinco pequeno na orelha direita. Ao fundo, há um manequim com vestido estampado em cores vivas, posicionado contra uma parede branca com faixa azul Bruna Azevedo/g1 'Acham que não somos capazes' Uma das primeiras alunas da oficina, Eva Marques conta que nunca se sentiu presa "por não enxergar como os outros". Com baixa visão, ela conta que as atividades são o divertimento do seu dia a dia. 'É muito gratificante ter uma professora com paciência de me ensinar. Muitas pessoas acham que não somos capazes", afirma. Superativa, ainda faz aula de teatro, canto e dança no Instituto. "Eu não tenho vergonha da minha pouca visão. Mesmo na adolescência, fase de mais vergonha, eu aprontava. Nós temos limitações, mas a gente tem que correr atrás do que quer", ensina. #paratodosverem: Eva Marques está sentada em ambiente interno iluminado, com parede branca e faixa azul ao fundo. Ela tem cabelo longo e escuro, veste blusa sem mangas em tom rosa com detalhes rendados. À esquerda, sobre a mesa, há uma máquina de costura elétrica e um objeto circular azul. Atrás dela, um manequim exibe vestido com saia estampada de flores grandes em cores vivas Bruna Azevedo/g1 🔎 O que é deficiência visual? É a perda total ou parcial da visão, que pode ser de nascença ou adquirida. Cegueira: Perda total da visão. Nesses casos, o aluno deve aprender o Braille e usar materiais e equipamentos acessíveis. Baixa visão: Perda parcial da visão, mesmo com óculos ou tratamento. O aluno precisa de materiais acessíveis, como letras ampliadas. Visão monocular: Perda da visão em um olho. A pessoa enxerga normalmente com o outro, mas pode precisar de materiais acessíveis na escola. LEIA TAMBÉM Pesquisadora cega transcreve para o braille partituras de obras de compositores brasileiros; VÍDEO Ser Acessível: TEA, PCD, SRM, criança não oralizada, tecnologia assistiva... glossário explica termos e siglas da educação especial VÍDEOS: assista às reportagens da série Ser Acessível Pesquisadora cega transcreve partituras de obras clássicas para musicografia Braille Alunos de toda a região As aulas no Instituto dos Cegos Trabalhadores de Campinas são totalmente acessíveis para pessoas com deficiência visual. Segundo Rosana Sanches, coordenadora da ONG, muitos atentidos vêm de outras cidades para frequentar as aulas gratuitas de reabilitação e habilitação. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 4,9 mil pessoas com deficiência visual vivem na região de Campinas. "As pessoas vêm de longe pra cá. Temos gente de São Paulo, Pedreira, entre outras cidades. Muitas vezes eles não têm um local que ofereça o suporte necessário próximo de casa", conta Rosana. 🧵Oficina de costura adaptada Uma das ferramentas utilizadas nas aulas de costura adaptada é a fita métrica texturizada, idealizada pela professora e designer de moda, Rosângela Rubbo. A fita métrica é costurada a cada 1 centímetro, e sinalizada por uma lantejoula a cada 10 centímetros. #paratodosverem: Duas mãos adultas seguram uma fita métrica branca com números azuis. A fita tem textura costurada a cada 1 centímetro e uma lantejoula dourada presa na marcação de 10 centímetros Bruna Azevedo/g1 Rosângela começou com a oficina em 2023, desenvolvendo sua própria metodologia ao se especializar em educação inclusiva. "Eles não são super-homens nem supermulheres. São pessoas normais que precisam reaprender algumas coisas. Eu procuro adaptar as aulas às necessidades deles, para que criem mais autonomia", diz. A professora elaborou um método para que os alunos identifiquem se a roupa é estampada, ou quais cores a peça possui. De acordo com ela, essa era uma queixa recorrente dos alunos, que sempre dependiam de outras pessoas para saber o que vestir. "Nós criamos uma etiqueta. Uma codificação que identifica as cores da roupa, se possui estampa, ou se é lisa. E ela pode ser bordada por alguém da família, ou industrialmente. Assim eles sentem com o tato o relevo, e identificam como é a peça", conta Rosângela. #paratodosverem: Três manequins estão posicionados em um ambiente interno iluminado, com parede branca e faixa horizontal azul. Cada manequim veste um avental diferente: o primeiro, à esquerda, tem avental azul com bolso rosa estampado; o segundo, ao centro, usa avental branco com bolso colorido; o terceiro, à direita, veste avental branco e saia longa com estampa de flores grandes. À frente dos manequins, há uma mesa retangular clara com pés vermelhos, sobre a qual está uma máquina de costura elétrica com pedal. O piso é de madeira Bruna Azevedo/g1 Como participar das aulas? Ao entrar em contato com a Instituição serão solicitados os seguintes documentos: laudo médico, comprovante de endereço, RG, CPF e cartão do SUS; Com os documentos enviados, o interessado será chamado para uma visita onde serão apresentadas as 23 atividades de reabilitação e habilitação oferecidas. Após a orientação da coordenação, a pessoa será direcionada a alguma atividade da instituição Quais atividades são oferecidas? Dança de forró Contadores de histórias Cantigas de roda Teatro Tecelagem Costura Xadrez Yoga Atividades de vida diária Braille Smart mobile (instrução de informática) Inclusão digital Tecnologia assistida Informática Orientação e mobilidade Grupo de cidadania Roda de conversa Mundo do trabalho Música Esportes Artesanato Articulação com a rede de serviços Atendimento familiar e visita domiciliar #paratodosverem: Pessoa adulta está sentada diante de uma máquina de costura elétrica branca com dois botões vermelhos. As mãos estão posicionadas próximas à agulha. Sobre a mesa clara, há uma parte destacável da máquina Bruna Azevedo/g1 * Estagiária sob supervisão de Fernando Evans VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas