'Fumei mais que vivi': busca por tratamento antitabagismo aumenta em Campinas e revela desafios de quem tenta parar

Dia do Não Fumar é celebrado neste domingo Pixabay Diego Garcia tinha apenas 18 anos quando começou a fumar. Hoje, aos 40, tenta romper com o vício que, al...

'Fumei mais que vivi': busca por tratamento antitabagismo aumenta em Campinas e revela desafios de quem tenta parar
'Fumei mais que vivi': busca por tratamento antitabagismo aumenta em Campinas e revela desafios de quem tenta parar (Foto: Reprodução)

Dia do Não Fumar é celebrado neste domingo Pixabay Diego Garcia tinha apenas 18 anos quando começou a fumar. Hoje, aos 40, tenta romper com o vício que, além de ocupar mais da metade da sua trajetória, também interrompeu a vida de sua mãe. Ela era fumante e morreu em decorrência de um câncer no pulmão. "Fiquei mais tempo da minha vida fumando do que sem fumar. Fumei mais que vivi", comenta. "Eu tinha até um pouco de vergonha, era muito cobrado pela família, porque minha mãe faleceu por câncer. Tinha todos os motivos do mundo para parar e não estava conseguindo", conta (leia a história abaixo). Diego é um dos 1.782 moradores que buscaram o Programa Municipal de Controle do Tabagismo nos primeiros nove meses de 2025. A iniciativa funciona gratuitamente em 51 Centros de Saúde e oferece, além de suporte profissional, a troca de experiências por meio dos grupos de apoio. 🚭 O Dia do Não Fumar é celebrado neste domingo (16), e nesta reportagem você vai ver: Os números do atendimento antitabagismo em Campinas Como é o atendimento para quem quer parar de fumar A história de quem buscou o grupo de apoio Números do atendimento antitabagismo em Campinas Segundo dados da Prefeitura, do total de atendidos neste ano, 660 eram do sexo masculino, enquanto 1.112 eram do feminino. O levantamento também revela um aumento no número de pacientes em comparação aos anos anteriores: 2025: a média foi de 198 atendidos por mês de janeiro a setembro; 2024: foram 1.996 atendimentos de janeiro a dezembro e a média mensal ficou em 166; 2023: ao longo de todo o ano foram 1.425 participantes, com uma média de 118 em 12 meses. Como é o atendimento e onde buscá-lo O programa antitabagismo da Prefeitura de Campinas atende fumantes ativos que desejam parar de fumar e também trabalha para prevenir que novos fumantes surjam, inclusive com ações educativas em escolas. Segundo Vivian Nunes, coordenadora do serviço, o objetivo é reduzir a prevalência e as consequências do tabagismo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco é responsável por matar mais de oito milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Na metrópole, o atendimento é feito tanto em grupo quanto individualmente, e todos os participantes passam por uma avaliação inicial. Os profissionais analisam há quanto tempo a pessoa fuma, quantos cigarros consome por dia e se ela gostaria de parar de fumar. Busca por atendimento para deixar cigarro aumenta em 40% na rede pública de Campinas 🚬 Como participar? Qualquer morador pode participar de um dos grupos da cidade, independentemente do bairro. Ao todo, há 51 unidades com atendimento, sendo que os encontros de alguns grupos acontecem de forma presencial e outros online. A lista dos locais pode ser consultada na internet. 🚬 Como é o trabalho dos grupos de apoio? Vivian explica que o grupo trabalha com atividades cognitivo-comportamentais para entender o que o cigarro representa para o paciente. "Depois de quatro encontros consecutivos, a gente dá uma avaliação com o médico ou outro profissional da equipe, que é capacitado para avaliar o grau de dependência que aquele paciente tem". Além das rodas de conversa, os tratamentos disponíveis podem incluir o uso de medicações, que ajudam a controlar a ansiedade, e adesivos de nicotina, usados para lidar com a abstinência. O acompanhamento continua mesmo após o paciente largar o cigarro, como forma de evitar recaídas. Quem já conseguiu parar também ajuda quem está chegando. "Ele ajuda os outros pacientes que estão entrando no grupo a parar de fumar, porque ele conta o que pra ele deu certo. Tem pessoa que demora seis meses no grupo pra conseguir parar. Tem pessoas que demoram dois meses, tem pessoa que é um mês". Da morte da mãe à paternidade: a caminhada contra o vício Diego frequentou um grupo de apoio no CS Costa e Silva, o mesmo que sua mãe buscou ao receber o diagnóstico de câncer. A memória foi determinante para que ele procurasse ajuda. "Ela participou lá e tinha comentado como era legal, a conversa, o tratamento". Mas o caminho foi longo. Ele já havia tentado parar algumas vezes, especialmente quando soube que seria pai, há cerca de cinco anos. Na ocasião, recorreu ao cigarro eletrônico acreditando que seria uma ponte para abandonar o vício. "Eu fiz uma grande besteira de tentar parar de fumar usando cigarro eletrônico, né? Pensei, pô, eu vou mudar para um cigarro eletrônico, que não tem cheiro, né? Enfim, e aí, eu vou tentando parar aos poucos, mas acabou que não parei [...] acabou sendo uma cilada". Diego não acha que o dispositivo piorou o hábito, mas afirma que ele facilita o uso por ser de acesso mais fácil e por não ter o odor que, normalmente, é o que incomoda quem está ao redor. "Foi aí que procurei o grupo, porque vi que não conseguiria sozinho". Aceitabilidade social é o maior desafio Para ele, o maior problema está na aceitabilidade social do cigarro. Embora os riscos do tabagismo sejam amplamente divulgados, o morador de Campinas destaca que o hábito é visto com uma naturalidade perigosa, assim como ocorre com a bebida alcoólica. Diego recorda piadas e provocações que ouviu enquanto tentava parar. "Muita gente falava brincando: ‘não quer um cigarro agora?’… Porque o cigarro é um pouquinho mais aceito. Mas quem está tentando parar… é a mesma coisa que quem está tentando parar de usar droga". Há cerca de oito meses, decidiu procurar o programa de apoio da Prefeitura. Lá, encontrou o apoio que faltava no cotidiano. Ouvir histórias de pessoas que já sofreram consequências graves por conta do hábito de fumar virou alerta e motivação. "Quando tem vontade de fumar, alguém fala: 'eu tomo um copo d’água', 'eu como uma cenoura'. Assim, a gente vai trocando experiências". Diferentemente de outros participantes, optou por não contar os dias que está sem fumar, pois não queria transformar a tentativa em mais uma fonte de ansiedade. Ele concluiu o tratamento, mas ainda vive desafios. As recaídas existem e Diego reforça: nem todo mundo vai parar de fumar assim que decidir, e entender isso é importante. "Quando você começa a beber, acaba não tomando as melhores decisões. Eu tive algumas recaídas de fumar um cigarro porque não aguentava ver alguém fumando ao meu lado [...] não é algo do dia para a noite. Quem parou de fumar sozinho é guerreiro", completa. VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e Região p Veja mais notícias sobre a região na página do g1 Campinas.