Menos álcool, novos hábitos e maior isolamento social: pesquisa mostra mudança no comportamento dos jovens de Sorocaba em 30 anos
Vista aérea de Sorocaba (SP) Witter Veloso/TV TEM/Arquivo Uma nova edição da pesquisa "Perfil do adolescente sorocabano – 30 anos depois", realizada pelo I...
Vista aérea de Sorocaba (SP) Witter Veloso/TV TEM/Arquivo Uma nova edição da pesquisa "Perfil do adolescente sorocabano – 30 anos depois", realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística de Sorocaba (Ipeso) em parceria com a TV TEM três décadas depois do primeiro grande levantamento de dados sobre a juventude sorocabana, revela transformações profundas nos hábitos, valores e vulnerabilidades dos adolescentes da cidade. Entre as principais mudanças está a redução no consumo de álcool: hoje, 70% afirmam nunca beber, contra 59% em 1995. Porém, entre os que consomem, a preferência mudou: a cerveja, antes predominante, deu lugar a bebidas destiladas como vodca, tequila e gin (61%), além de batidas e caipirinhas (46%). 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp Alguns valores permanecem estáveis, como a aprovação do sexo antes do casamento, enquanto outros mudaram significativamente, com mais consciência preventiva quanto a Aids e anticoncepcionais. As relações familiares são vistas como melhores, embora haja crescimento do isolamento emocional. Já a experimentação de drogas aumentou, revelando novos riscos. Pautas como pena de morte, armas e gênero dividem as opiniões atuais. Novos hábitos e riscos A experimentação de drogas aumentou. Em 1995, 96% diziam nunca ter usado; agora, 10% já experimentaram alguma substância. A maconha aparece como a droga mais acessível (33%), seguida por comprimidos de farmácia (22%). Já sobre cigarro e vape, 66% nunca fumaram, mas 22% já experimentaram. O vape é usado por 9%, enquanto 5% fumam cigarro comum e 4% cannabis (maconha). Natália de Mello Tavares, psicóloga do CAPS AD III Roda Viva, de Sorocaba (SP) Reprodução/TV TEM Sobre esse cenário, a psicóloga Natália de Mello Tavares, do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) III Roda Viva, de Sorocaba (SP), alerta para os riscos da exposição precoce. “São diversas vulnerabilidades, assim por dizer. As crianças e adolescentes despertam de forma biológica e natural a curiosidade. E quando eles estão expostos a ambientes, seja em casa ou fora, em que eles têm esse estímulo novo, eles vão acabar buscando isso. Uma criança de 12 ou 13 anos com acesso a esse tipo de substância (álcool ou cigarro) acaba tendo um estímulo muito positivo e querendo cada vez mais, o que gera o vício.” Ela acrescenta que esses vícios são disfuncionais e podem comprometer a vida escolar e social: “Às vezes se tem uma criança com dificuldade de socializar que acaba recorrendo ao álcool, temos visto bastante sobre o ‘copão’. Só que é uma forma totalmente negativa, que acaba gerando um vício e que pode se agravar e prejudicar pelo resto da vida. Quanto mais cedo a criança e adolescente é exposto ao uso de uma substância, ele pode se tornar algo crônico”, complementa. Quanto às apostas online, um tipo de vício que não existia na época da primeira pesquisa, 15% já apostaram ou pensaram em apostar. Entre os que jogam, 59% reconhecem o risco. Relações familiares e isolamento Apesar de 82% considerarem a família “muito importante” e 41% classificarem o relacionamento com os pais como ótimo, há sinais de maior isolamento emocional. Porém, quando enfrentam problemas, 26% dizem não conversar com ninguém — número muito superior ao de 30 anos atrás, quando apenas 4% relatavam isso. Escola, futuro e bullying Os adolescentes sorocabanos demonstram grande expectativa em relação à educação e ao futuro mas, apesar do otimismo, o ambiente escolar ainda traz desafios. No mercado de trabalho, a maioria não exerce atividade remunerada. 67% dos adolescentes pretendem cursar faculdade, sendo que 40% planejam seguir até pós-graduação ou mestrado. 48% já sofreram algum tipo de bullying, principalmente apelidos ofensivos (59%) e exclusão social (40%) 70% dos entrevistados não exerce atividade remunerada, mas 14% fazem “bicos” informais e 3% ganham dinheiro com redes sociais. 75% acreditam que o futuro será melhor ou muito melhor, contra apenas 24% que, há 30 anos, viam o futuro como mais difícil. Vida afetiva e sexual 80% apontam o uso de preservativo como principal forma de prevenção contra a Aids Reprodução/G1 MA A aprovação do sexo antes do casamento permanece estável (53% a favor, igual a 1995). Já a experiência sexual diminuiu: 22% afirmam já ter tido relações, contra 24% há três décadas. Entre os que tiveram experiência, 59% usam camisinha, 24% pílula e 17% pílula do dia seguinte — índices que mostram maior consciência preventiva. A percepção sobre a Aids também evoluiu: 80% apontam o uso de preservativo como principal forma de prevenção, contra 65% em 1995. Pautas sociais dividem opiniões Os adolescentes sorocabanos se mostram engajados em debates atuais, mas com opiniões fragmentadas: A favor: adoção por casais do mesmo sexo (54%), auxílio financeiro do governo (81%), vacinação obrigatória em pandemias (81%), redes sociais apagarem fake news (84%). Divididos: pena de morte (47% a favor, 22% contra), porte de armas (34% a favor, 41% contra), mudança de gênero antes dos 18 anos (26% a favor, 37% contra). Contrários: legalização da maconha (52%), liberação de bingos e cassinos (55%). Retrato da juventude O estudo mostra que os adolescentes de Sorocaba estão mais conscientes sobre saúde e direitos, mas enfrentam novos desafios: maior exposição a drogas, apostas online e isolamento emocional. Ao mesmo tempo, reforçam vínculos familiares e mantêm expectativas positivas sobre o futuro. A pesquisa ouviu 408 adolescentes de 13 a 17 anos entre maio e setembro de 2025, em todas as regiões da cidade. Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM