Parlamentares acionam órgãos contra racismo religioso após PMs armados entrarem em escola infantil em SP

PMs vão à escola em SP com metralhadora após pai reclamar de desenhos de matriz africana Parlamentares de diferentes Casas acionaram órgãos de controle, o ...

Parlamentares acionam órgãos contra racismo religioso após PMs armados entrarem em escola infantil em SP
Parlamentares acionam órgãos contra racismo religioso após PMs armados entrarem em escola infantil em SP (Foto: Reprodução)

PMs vão à escola em SP com metralhadora após pai reclamar de desenhos de matriz africana Parlamentares de diferentes Casas acionaram órgãos de controle, o Ministério Público e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) após a entrada de policiais militares armados na EMEI Antônio Bento, na Zona Oeste de São Paulo, motivada pela reclamação de um pai sobre desenhos relacionados a Iansã, divindade de matriz africana, produzidos pela filha em uma atividade escolar. São representações, ofícios e pedidos formais de investigação a órgãos estaduais e federais. Documentos aos quais o g1 teve acesso mostram que ao menos sete parlamentares já se pronunciaram. A mobilização aconteceu após relatos de que uma funcionária da escola foi prensada contra a parede e teve uma arma encostada em seu corpo durante a abordagem, e de que um dos policiais entrou na unidade com uma arma de alto calibre. Além disso, o pai que se incomodou com a atividade também é policial militar da ativa. A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e a vereadora Luana Alves (PSOL) acionaram formalmente o Ministério Público. Ambas solicitaram investigação sobre a presença dos PMs policiais armados dentro da escola. Elas afirmam que os agentes intimidaram e ameaçaram crianças e educadores após a reclamação sobre uma atividade envolvendo orixás. As parlamentares defendem que a ação violou a Lei de Diretrizes e Bases, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, e alerta para o papel de autoridades que, segundo ela, estimulam intolerância religiosa e racismo. Já o Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), deputado federal, classificou o episódio como “grave” e afirmou que a Comissão Parlamentar em Defesa do Estado Laico, presidida por seu mandato, vai acionar o Ministério Público e a Corregedoria da PM. Vieira destaca que a atividade sobre cultura afro-brasileira cumpre legislação federal e que cabe ao Estado garantir esse direito, não intimidar educadores e alunos. A deputada estadual Mônica Seixas (PSOL-SP) classificou o episódio como racismo religioso e abuso de autoridade, afirmando que a escola cumpria seu papel ao trabalhar com currículo antirracista. Mônica pediu investigação imediata e responsabilização dos agentes, reforçando que a presença de policiais armados em uma creche por conta de um desenho de Iansã representa violação de direitos e intimidação. O deputado estadual Emidio de Souza (PT-SP) enviou um ofício à Corregedoria da Polícia do Estado de São Paulo solicitando apuração rigorosa da conduta dos policiais militares. No documento, Emidio afirma que a entrada armada dos agentes configura possível abuso de autoridade, intolerância religiosa e violação de protocolos institucionais, e pede: Instauração de procedimento investigativo; Identificação dos responsáveis pela ordem de entrada na escola; Verificação de infrações disciplinares; Medidas para evitar repetição de ações semelhantes. O ofício ressalta que a presença ostensiva de agentes armados em uma escola infantil representa grave distorção do papel do Estado. A deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP), o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL-SP) e o vereador Celso Giannazi (PSOL) apresentaram uma representação conjunta ao Ministério Público. Em despacho assinado pelo promotor Bruno Orsini Simonetti, o MP determinou uma série de diligências obrigatórias, entre elas: Pedido à Secretaria Municipal da Educação para detalhar o suporte dado à escola, identificar o pai que teria destruído o mural e enviar gravações das câmeras de segurança; Solicitação à SSP para identificar os policiais envolvidos, confirmar se o pai integra a corporação, enviar registros, gravações das câmeras corporais e cópia do acionamento que gerou a ocorrência; Envio do caso à Promotoria de Justiça Militar. O MP também solicitou identificação do batalhão dos agentes e informações sobre eventual instauração de Inquérito Policial Militar. Implicações jurídicas Para o advogado criminalista Welington Arruda, mestre em Direito, a presença de PMs armados na escola, especialmente em razão de uma atividade sobre cultura afro-brasileira prevista em lei, ultrapassa todos os limites institucionais aceitáveis. "O que se vê no caso da EMEI Antônio Bento é uma ação incompatível com a legalidade, com a proporcionalidade e com a própria missão constitucional da Polícia Militar. Trata-se de um episódio que, se confirmado, configura possível abuso de autoridade e um grave ato de intolerância religiosa, na medida em que a atividade escolar estava alinhada ao ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira, conforme determina a Lei 10.639/03", explicou. "É especialmente grave o relato de que uma funcionária foi encostada contra a parede e que crianças teriam sido expostas a agentes armados com armamento de alto calibre. Isso viola protocolos, afronta direitos fundamentais e cria um ambiente de medo que nunca poderia existir em um ambiente de educação infantil. É importante que as apurações avancem com absoluta transparência", completou. A SSP afirma que instaurou procedimento para investigar a conduta dos quatro PMs envolvidos e que as câmeras corporais e depoimentos estão sendo analisados. A pasta também confirmou que o pai que acionou a polícia é policial militar da ativa. O Ministério Público conduz diligências para avaliar se instaurará inquérito civil ou ação civil pública. EMEI Antônio Bento, na Zona Oeste de SP Reprodução/Google Street View