'Qual o problema dele ter sido o Ken Humano?': psicólogo defende jovem rejeitado e critica preconceito social

Ex-Ken Humano adotou 'nome artístico' para superar bullying que sofreu na escola O psicólogo e professor universitário Paulo Muniz afirmou que Felipe Máximo...

'Qual o problema dele ter sido o Ken Humano?': psicólogo defende jovem rejeitado e critica preconceito social
'Qual o problema dele ter sido o Ken Humano?': psicólogo defende jovem rejeitado e critica preconceito social (Foto: Reprodução)

Ex-Ken Humano adotou 'nome artístico' para superar bullying que sofreu na escola O psicólogo e professor universitário Paulo Muniz afirmou que Felipe Máximo, de 21 anos, conhecido como ex‑Ken Humano, não deve ser criminalizado pela forma como escolhe se apresentar ao mundo. Ele falou ao g1 após o jovem relatar enfrentar uma crise financeira provocada pela rejeição social. Desempregado, Felipe contou temer não conseguir se sustentar e acabar vivendo nas ruas. "O errado é quem persegue esse rapaz. O errado é aquele que importuna esse rapaz, aquele que não permite que ele viva a vida dele aqui para frente, que ele ponha em ação o plano da vida dele para frente. Qual o problema dele ter sido o Ken Humano?", apontou Muniz. Recentemente Felipe anunciou o fim da fase como “Ken Humano” e contou que busca oportunidades de trabalho para reconstruir a vida. Segundo ele, a exposição do passado como personagem ainda o prejudica, fazendo com que perca chances quando descobrem sua história. ✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Santos no WhatsApp Felipe Máximo, ex-Ken Humano Reprodução/Redes Sociais O especialista destacou que, independentemente da forma como as pessoas se apresentam, elas precisam ser respeitadas. “Inclusive quando se expõe esse jeito nas redes sociais, ela precisa e tem que ser respeitada, a não ser que cometa um crime explicitamente e exponha esse crime na rede, que não é o caso”, disse. Além da defesa pela não criminalização, Muniz ressaltou a importância da regulamentação das redes sociais, considerando que, apesar de serem ferramentas relevantes, a dispersão do conteúdo nelas é incontrolável. Para ele, Felipe não deixou de ser quem era, mas foi obrigado a se moldar às exigências externas. “Não é que ele caiu na realidade e tirou a sua máscara, a sua persona, não é isso. Na verdade, o mundo, na minha opinião, não permitiu que ele vivesse quem ele realmente é. Ele, na verdade, teve que se formatar, se moldar às exigências dos outros”, afirmou. Sociedade moralista Felipe Máximo já foi 'Ken Humano', trabalhou como auxiliar de pedreiro e como frentista Arquivo Pessoal Felipe Máximo já foi conhecido como “Ken Humano” e também trabalhou como auxiliar de pedreiro e frentista. O psicólogo avaliou que talvez o personagem fosse, de fato, uma expressão do próprio Felipe, “por mais que para algumas pessoas possa parecer estranho”. Segundo ele, os padrões sociais podem ser cerceadores da liberdade. Para Muniz, Felipe é a parte vulnerável da história. “O que ele viveu quando era o Ken Humano, quando era aquele personagem, tem grande chance de não ser nenhum tipo de transtorno, de desvio, de doença”. O psicólogo acrescentou que, na verdade, a sociedade é quem está doente por ser moralista, sem ética, sem amor e desumana com o próximo. “O que ele viveu está muito longe de ser um crime, mas infelizmente é tratado como criminoso, doente ou como alguém que tenha algum transtorno mental.” Acidente Felipe ficou ferido recentemente após sofrer um acidente doméstico. Ele caiu no banheiro da casa onde mora durante a madrugada e quase bateu a cabeça no vaso sanitário. “Sofri um acidente doméstico, o que afetou ainda mais minha retomada profissional”. Segundo ele, a queda o obrigou a levar pontos na boca. Embora a família saiba do ocorrido, ninguém conseguiu ajudá-lo. “Estou tomando remédio e procurando dentista porque acredito que vou precisar de cirurgia.” Felipe Máximo, ex-Ken Humano, ficou ferido após acidente doméstico: 'vivo por milagre de Deus' Arquivo Pessoal Dificuldades financeiras Ao g1, contou que enfrenta problemas financeiros e dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho, o que tem gerado preocupação. Felipe já trabalhou como auxiliar de pedreiro e mais recentemente frentista em um posto de combustíveis, mas afirma que o ambiente se tornou hostil após colegas descobrirem que ele havia sido conhecido como “Ken Humano”. "Até então eu tenho tampado o sol com a peneira e, mesmo agora estando trabalhando [sem carteira de trabalho] como porteiro em uma construção civil, me vejo à beira de me tornar um morador de rua, pois não tenho ninguém para contar ou ajudar", afirmou. Quem é o 'Ex-Ken Humano' de Peruíbe Felipe Máximo Dias de Oliveira, conhecido como Felipe Adam ou 'Mr. Adam', ganhou popularidade na internet ao compartilhar diversos conteúdos sobre a sua "transformação" para ficar parecido com o boneco Ken. Em 2020, o rapaz, que na época tinha 16 anos, revelou ao g1 os planos de se submeter a 42 procedimentos cirúrgicos para que pudesse se parecer cada vez mais com o personagem. Em setembro de 2021, ele compartilhou nas redes sociais que havia abandonado o sonho das modificações corporais, embora ainda se caracterize como o boneco Ken usando maquiagem. Na ocasião, ele ainda não trabalhava em obras. 'Ken Humano' riu, brincou e se emocionou ao assistir 'Barbie' em um cinema em Santos (SP) Thiago D'Almeida/g1 VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos