Surto de doença diarreica aguda atinge cidade do interior de SP; análise aponta água contaminada

Moradores suspeitavam que qualidade da água estava relacionada com casos de virose em Américo Leandro Vicari/EPTV Américo Brasiliense, cidade do interior de ...

Surto de doença diarreica aguda atinge cidade do interior de SP; análise aponta água contaminada
Surto de doença diarreica aguda atinge cidade do interior de SP; análise aponta água contaminada (Foto: Reprodução)

Moradores suspeitavam que qualidade da água estava relacionada com casos de virose em Américo Leandro Vicari/EPTV Américo Brasiliense, cidade do interior de São Paulo com cerca de 33 mil habitantes, vive um surto de doença diarreica aguda, segundo aponta um comunicado conjunto do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) e do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo. Segundo os órgãos, a cidade registrou 2.111 casos da doença e uma morte neste ano. Análises apontaram que amostras de água coletadas em outubro tinham deficiências de cloração, presença de coliformes totais (grupo de bactérias) e até de Escherichia coli (E. coli). Em caráter emergencial, foram liberados 6 mil frascos de hipoclorito de sódio a 2,5% para que a população possa purificar a água e garantir consumo seguro. 📱 Siga o g1 São Carlos e Araraquara no Instagram A prefeitura foi autuada para promover ações de comunicação e de prevenção de riscos à saúde da população. Os órgãos informaram que os Sistemas de Abastecimento de Água (SAA) foram inspecionados e o Departamento de Água, Esgoto e Meio Ambiente de Américo recebeu autos de infração para correção imediata dos riscos sanitários identificados. Na noite de sexta (14), em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, antes da divulgação do documento, a prefeita Terezinha Viveiros (Republicanos) afirmou que a causa do surto estava sendo investigada e que todas as medidas necessárias para um bom atendimento da população estavam sendo tomadas. Na mesma entrevista, o superintendente do Daema, Cleverson Marins, disse que amostras enviadas ao Instituto Adolfo Lutz foram "satisfatórias". Um laboratório terceirizado também teria apontado que a água estava "dentro dos padrões de potabilidade". (veja mais abaixo). A Vigilância Sanitária informou neste sábado (15) que, após a detecção de um ponto com laudo de água insatisfatório no monitoramento de outubro, agiu imediatamente, intensificando as medidas corretivas e preventivas junto ao Daema. Segundo a Vigilância, na segunda-feira (10) foram coletadas amostras em 18 pontos (12 de rotina e 6 adicionais) da rede de distribuição. Os laudos, disponibilizados na quinta-feira (13) confirmaram: níveis adequados de Cloro Residual Livre em toda a rede analisada e ausência de bactéria Escherichia coli (indicadora de contaminação fecal) nas amostras. Para identificar a origem exata do surto de virose, a Vigilância coletou na quarta-feira (12) amostras específicas para análises detalhadas de vírus, bactérias e protozoários, que foram enviadas ao renomado Instituto Adolfo Lutz. Os resultados definitivos serão comunicados assim que estiverem disponíveis. Água contaminada A cidade de Américo Brasiliense Prefeitura/Divulgação Em 24 de outubro, a vigilância epidemiológica municipal comunicou ao GVE Araraquara sobre o aumento significativo da doença. Após a notificação do CVE e CVS, amostragens de água da rede pública realizadas em outubro pela Vigilância Sanitária Municipal (VISA), no âmbito do Programa de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Proagua), apontaram deficiências de cloração e apontam a presença de “coliformes totais” na água. Uma amostra coletada em 21 de outubro na área urbana do município apontou a contaminação da água por Escherichia coli. O comunicado diz que, diante da situação foram realizadas, entre 10 e 12 de novembro, inspeções técnicas conjuntas e reuniões emergenciais em apoio às instâncias regionais da Vigilância Epidemiológica (GVE) e da Sanitária (GVS). Segundo o documento, nas reuniões com as instâncias regionais e municipais, envolvendo a prefeita, órgãos da prefeitura e Daema "foi apresentado o cenário epidemiológico, bem como a situação de risco sanitário decorrente dos problemas de potabilidade de água distribuída, realçando os fortes indícios da correlação do surto com as condições inadequadas de abastecimento de água à população". Veja a evolução dos casos da doença diarreica aguda em Américo: Gráfico mostra evolução dos casos de doença diarreica aguda em Américo Brasiliense, SP Reprodução O documento destaca os seguintes aspectos: Fragilidades estruturais nos Sistemas de Abastecimento de Água (SAA), com dados de monitoramento de controle e de vigilância indicando o fornecimento de água para a população fora dos padrões de potabilidade; Aumento expressivo do número de casos de DDA em curto intervalo de tempo, com o surgimento de novos casos e grande demanda de doentes nas unidades de saúde, destacando-se o centro urbano, abastecido por SAA que faz uso de manancial subterrâneo e fornece, segundo dados do Proagua, 67% da água distribuída pelo Daema; Indicação de 100% de positividade nas amostras clínicas coletadas (norovírus e rotavírus, e coinfecção), cujos patógenos apresentam características de transmissão fecal-oral, inclusive pelo consumo de água fora dos padrões de potabilidade. Mais notícias da região: ARARAQUARA: Manicure desaparece após viagem de moto por aplicativo no interior de SP; polícia investiga IBATÉ: Mulher de 35 anos morre após ser atropelada na Rodovia SP-310 ARARAS: Motorista morre em acidente entre carro e carreta na Rodovia SP-191 Prefeitura apontou casos de gastroenterite Na sexta, a prefeitura afirmou que a cidade registrou 1.224 casos de gastroenterite, uma inflamação do estômago e dos intestinos, geralmente causada por vírus, bactérias ou parasitas, também conhecida como virose, em 14 dias de novembro. A administração também apontou que os casos vinham aumentando desde outubro quando foram registrados 1.780 casos, número 292% maior que os 453 registrados em setembro. Moradores do município de relataram sintomas como diarreia, vômitos e dores abdominais e já suspeitavam da qualidade da água. Veja a reportagem da EPTV de sexta, antes do comunicado: Casos de virose crescem em Américo e moradores suspeitam da qualidade da água A cuidadora de idosos, Juliana Lopes informou que sempre consumiu água da torneira, mas decidiu comprar um purificador após saber da alta de casos. No entanto, ela apresentou sintomas antes da compra. A filha dela também adoeceu. “Foi muito terrível, assustador até. Fui para o hospital, e como já tenho problemas no fígado, fiquei ainda mais preocupada. É demorada a recuperação e os sintomas são muito fortes”, contou. A cuidadora de crianças Márcia Miranda está com virose em Américo Brasiliense, SP Leandro Vicari/EPTV A reportagem da EPTV ouviu relatos de moradores que buscavam atendimento no hospital municipal nesta sexta-feira (14). As viroses têm sido constantes e muitos pacientes já enfrentaram o quadro mais de uma vez no mesmo mês. “Minha filha teve duas vezes. Eu também estou com essa virose. É horrível, muitos dias assim. E o hospital vive lotado e ninguém toma providência”, disse a cuidadora de crianças Márcia Miranda. A aposentada Marta Aparecida dos Reis afirmou que está na quarta crise. “Melhoro um dia, fico três ou quatro bem e volta de novo. Só gasto com farmácia e nada melhora”, relatou. Ela contou que realizou exames de sangue a pedido da equipe médica devido à reincidência dos sintomas. O que disseram prefeitura e Daema à EPTV na sexta A prefeita de Américo Brasiliense, Terezinha Viveiros (Republicanos), e o superintendente do Daema Cleverson Marins Reprodução/EPTV A Prefeitura de Américo Brasiliense informou, em notas divulgadas nos dias 24 de outubro e 13 de novembro, que não havia relação entre os sintomas e a água fornecida no município. Segundo o governo municipal, laudos do Instituto Adolfo Lutz e de um laboratório terceirizado apontaram parâmetros dentro dos padrões de potabilidade. Apesar disso, a administração disse que o surto de virose está em investigação e que novas análises estavam sendo conduzidas. "Além de investigar a causa, nós estamos tomando todas as medidas necessárias para um bom atendimento. Então a população com certeza está sendo protegida nesse sentido. No momento ainda não [é necessário contratar mais profissionais de saúde], embora a gente já esteja contratando mais técnicos de enfermagem", disse a prefeita Terezinha Viveiros na entrevista à EPTV. Segundo o superintendente do Daema, Cleverson Marins, a captação de água é feita exclusivamente através de poços. "Nós temos análise toda segunda e quinta-feira com uma empresa contratada através do processo licitatório. Porém, também por conta do problema de saúde, o Instituto Adolfo Lutz também fez a coleta de nove amostras, já nos mandou e todas as amostras deram como satisfatórias", ressaltou. Uma irregularidade com relação à ausência de cloragem foi constatada, mas o Daema tomou medidas para normalização. Ele recomenda que a população utilize o hipoclorito na lavagem de frutas e verduras para prevenir a virose. Veja a entrevista da prefeita e do superintendente antes do comunicado: Prefeita e superintendente do Daema falam sobre qualidade da água em Américo Mau cheiro no ar da cidade Moradores também relatam mau cheiro no ar na cidade. "Realmente nós estamos passando por momentos difíceis com relação a esse mau cheiro no ar, mas a Cetesb, que é o órgão competente, já está fazendo toda a investigação para que a gente possa entender o que é que está causando", afirmou a prefeita. A São Martinho, responsável pela Usina Santa Cruz, informou que recebeu dois autos de advertência da Cetesb por emissão de odores que podem causar incômodo ao bem-estar público. A empresa destacou que, desde a identificação do problema, já adotou diversas medidas e afirmou também que não há risco à saúde da população. Veja a nota: "Desde a identificação do problema, várias medidas foram adotadas e continuam sendo implementadas para sua solução definitiva. De acordo com informações técnicas disponíveis, não há risco à saúde da população. A São Martinho lamenta o incômodo e reforça seu compromisso com a transparência, a responsabilidade socioambiental e a saúde e segurança de seus colaboradores e das comunidades do entorno", disse a nota. Higiene e prevenção Segundo a Vigilância Sanitária, é fundamental reforçar os cuidados básicos, reiteramos à população a importância de reforçar as medidas de prevenção e higiene, de modo a reduzir eventuais riscos de contaminação: • Lave cuidadosamente as mãos com água e sabão antes das refeições, após o uso do sanitário, ao trocar fraldas e sempre que houver contato com alimentos ou utensílios domésticos. • Higienize frutas, verduras e legumes com água tratada e solução sanitizante adequada antes do consumo. Como sugestão, dilua uma colher de sopa (10 ml) de hipoclorito de sódio a 2,5% em 1 litro de água, deixe os alimentos de molho por 15 minutos e, em seguida, enxágue com água potável. • Evite o consumo de água de origem duvidosa, como a proveniente de fontes, minas ou poços. Em caso de alteração na qualidade ou dúvida quanto à procedência, proceda de uma das seguintes formas: a) ferva a água por pelo menos 3 minutos, ou filtre-a com filtro doméstico, coador de papel ou pano limpo e, em seguida, adicione duas gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, deixando repousar por 30 minutos antes do consumo. • Mantenha caixas d’água, reservatórios e filtros sempre limpos, higienizados e tampados, realizando a limpeza periódica conforme recomendação do fabricante ou da Vigilância Sanitária. • Evite compartilhar copos, talheres, toalhas e outros objetos de uso pessoal, especialmente em ambientes coletivos. • Descarte alimentos e bebidas que apresentem alterações de odor, cor ou sabor, ou que possam ter sido expostos a condições inadequadas de conservação e risco de contaminação. REVEJA VÍDEOS DA EPTV: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara