Um ano após menina de 9 anos morrer afogada em resort de luxo, família luta por lei para aumentar segurança em piscinas

foi socorrida com vida, mas morreu após 11 dias de internação — na mesma data em que completaria 10 anos. Arquivo pessoal Neste domingo (23), o acidente qu...

Um ano após menina de 9 anos morrer afogada em resort de luxo, família luta por lei para aumentar segurança em piscinas
Um ano após menina de 9 anos morrer afogada em resort de luxo, família luta por lei para aumentar segurança em piscinas (Foto: Reprodução)

foi socorrida com vida, mas morreu após 11 dias de internação — na mesma data em que completaria 10 anos. Arquivo pessoal Neste domingo (23), o acidente que causou a morte de Manuela Cotrin Carósio completa um ano. A menina de nove anos ficou submersa por sete minutos na piscina do resort de luxo Royal Palm Plaza, onde estava hospedada com o pai, a mãe e a irmã mais velha em Campinas (SP). O dia 23 de novembro de 2024 era para ser um momento de descontração em família, mas tornou-se uma tragédia. O cabelo da menina de 9 anos ficou preso em um dispositivo de uma cascata, mantendo a Manoela submersa na água. Ela foi socorrida com vida, mas morreu após 11 dias de internação — na mesma data em que completaria 10 anos. A EPTV, emissora afiliada da TV Globo, esteve em Paulínia (SP) para conversar com a família de Manoela, que acreditam que a tragédia poderia ter sido evitada, e lutam para a criação da "Lei Manuela". Esta é a primeira vez que eles recebem uma equipe de reportagem desde a morte da filha. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Campinas no WhatsApp "Nós presenciamos a maior tragédia da nossa vida. No momento que ela foi retirada da piscina, eu só queria rezar. Eu virei para o meu marido, e disse: "A Manoela se foi". Acompanhamos todo o movimento, e "médicos hóspedes abençoados" trouxeram ela de volta, depois de tanta luta. Ela foi entubada na beira da piscina", relembra a mãe de Manoela. Dispositivo improvisado "Faltou segurança. O cabelo dela ficou preso em um dispositivo tipo um ralo da cascata. Um dispositivo irregular. Uma adaptação de um réchaud de cozinha [...] O cabelo dela entrou pelos dois orificios das laterais da peça que não estava de acordo [com as normas] e ficou preso em parafusos", descreve Carine. Relembre o ocorrido: Na época do acidente, o resort confirmou que o incidente com Manuela "envolveu um dispositivo específico para retorno de água de uma cascata da piscina principal" e disse que o equipamento "foi desligado para avaliação". Segundo um laudo da Polícia Civil, o dispositivo de sucção responsável por prender o cabelo da menina estava irregular. Na época, o delegado Luiz Fernando Marucci, responsável pela investigação do caso, explicou que a irregularidade foi apontada pelo laudo pericial do Instituto de Criminalística (IC). "O dispositivo onde aconteceu o acidente está em total desconformidade com as normas técnicas. Esse tópico é muito importante para nós agora no curso da investigação, porque a partir de agora nós vamos buscar informações de quem foi o responsável por colocar aquele dispositivo lá, então o engenheiro, o técnico responsável pelo projeto e o engenheiro técnico responsável pela execução desse projeto, para ver se constava ou não esse dispositivo da forma em que foi encontrado e foi periciado pelos peritos no local", explicou o delegado quando saiu o laudo pericial. 'Médicos hóspedes abençoados' Conforme a Polícia Civil, Manuela foi resgatada por hóspedes do hotel e conduzida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital Pediátrico Municipal Mário Gattinho. O Resort Royal Palm afirmou, na época, que uma equipe de salva-vidas que estava no local também prestou "socorro imediato e acompanhou os primeiros socorros". A família relembra a dedicação dos outros hóspedes em tentar salvar a vida da sua filha com muito carinho e gratidão, e descrevem que a ação mobilizou a todos que estavam ao redor. "Ela teve uma parada cardíaca, e esses médicos do hotel, que eram hóspedes, começaram a fazer massagem cardíaca e fizeram vários revezamentos, porque um cansava e o outro já vinha e atuava. A Carine [a mãe] já estava desacreditada, e eu segurava ela e dizia: 'Amor, eles vão conseguir'. Eles conseguiram. Se não fosse eles, ela não teria ficado mais um pouquinho com a gente, na minha opinião", relembra o pai de Manuela. Médicos se alternavam na massagem cardíaca e outro hóspedes tentavam gerenciar o fluxo de pessoas — alguns até foram até o velório prestar condolências à família. "Foi por causa deles que a gente conseguiu ficar com a Manu por mais 11 dias", relata a mãe. Lei Manuela Enquanto aguarda o desfecho das investigações, a família decidiu transformar o luto em mobilização. Foi desse movimento que nasceu o projeto conhecido como “Lei Manuela”, que busca reforçar a segurança em piscinas de uso coletivo para evitar que outras pessoas passem pelo mesmo trauma. A Câmara Municipal de Campinas recebeu um projeto de lei que determina a instalação de dispositivos de segurança, sistemas de desligamento automático e ralos anti-sucção em piscinas, cascatas e equipamentos similares de hotéis, clubes, academias, condomínios e outros locais de acesso ao público. A proposta foi apresentada pelo vereador Nelson Hossri (PSD) e recebeu o nome em homenagem à menina. Pelo texto, empreendimentos que construam, reformem ou façam manutenção nesses espaços precisarão apresentar um certificado de conformidade técnica emitido por órgão competente. O projeto também prevê fiscalização orientadora e um prazo de 120 dias para que os locais se adaptem, caso a lei seja aprovada e sancionada. Penalidades ainda serão definidas na regulamentação. A família ressalta que Campinas já possui uma legislação aprovada em 2019 para desligamento de bombas enquanto há banhistas na piscina, mas considera que ela não é suficiente. “Foi o dia mais difícil para nós. Perder um filho não é fácil. A gente está tentando transformar essa dor em amor, porque não queremos que ninguém passe pelo que estamos passando”, afirma o pai de Manuela. Atualmente, segundo a família, ao menos 17 municípios — incluindo Campinas e Paulínia — já iniciaram movimentações para adotar normas inspiradas na Lei Manuela. Quem era a Manuela Antes da tragédia, Manuela era lembrada pela família como uma criança amorosa, carinhosa e repleta de alegria. Eles dizem que o amor era uma marca tão forte em sua personalidade que ela ensinou todos dentro de casa a expressar mais seus sentimentos. “A gente fala que ela ensinou a família inteira a falar ‘eu te amo’. Ela era minha anjinha — e era assim mesmo antes de tudo acontecer”, diz Carine, mãe da menina. Melissa, irmã mais velha de Manuela, de 15 anos, conta que a caçula era sua maior referência. “Ela era só amor. Eu aprendi muito mais com a Manu do que ela aprendeu comigo, apesar de eu ser cinco anos mais velha do que ela. Ela sempre foi muito amorosa, carinhosa e calma. Um exemplo para mim”, relembra. O que diz o Royal Palm? Lamentamos profundamente o acidente ocorrido em 2024 e nos solidarizamos com a dor da família e dos amigos. Desde então, temos colaborado prontamente com as autoridades na apuração de todas as circunstâncias do caso. E, como medida de reforço adicional de segurança, desativamos de forma definitiva a cascata da piscina onde ocorreu o episódio com nossa hóspede. Reforçamos nosso compromisso permanente com a segurança e o bem-estar de todos, seguindo rigorosamente todos os protocolos de segurança, manutenção e treinamento constante de nossas equipes. Antes da tragédia, Manuela era lembrada pela família como uma criança amorosa, carinhosa e repleta de alegria. Arquivo pessoal VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região , Veja mais notícias sobre a região na página do g1 Campinas.